quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Um tango

Certa vez, esta canção atravessou os cômodos da casa para me resgatar do sonho.


quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Um poema no fim de ano

Aproximo-me do final de 2011 conduzido pela palavra. Finalizei um trabalho do curso de Psicanálise, prossigo nas leituras múltiplas, escrevo artigos, reflito... e um poema nasceu na tarde de hoje.

Para vestir poesia

Camilo Mota


Ao Felipe Lima

Para se vestir de poesia,
escolha uma palavra tranquila.
Acolha o som
e ouça o que cantam as nuvens antes da chuva.
Quando sentir os respingos na alma,
retire da água os primeiros fios
— deixe-se molhar de transparências.
Esta roupa a que melhor lhe cabe:
o rio que cada um traz dentro si
constroi oceanos de vozes prontas
— anúncio do canto da vida
no tempo que pulsa.

28/12/11

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

I Encontro Bahá'í de Jovens em Petrópolis



A Comunidade Bahá'í de Petrópolis, na região serrana do Estado do Rio, estará promovendo nos dias 17 e 18 de dezembro de 2011 o I Encontro Bahá'í de Jovens, voltado principalmente para pessoas com idade entre 13 e 17 anos. Adultos também podem participar. O evento, que acontecerá no Sítio São Luiz, contará com atividades lúdicas, exibição de filme, momentos devocionais, palestras e debates sobre os temas como o papel da juventude no mundo de hoje, padrão de vida bahá'í e como se conectar com Deus.

A inscrição pode ser feita até o dia 10/12. O investimento é de R$ 160 pelos dois dias de evento, aí já incluídos hospedagem, café da manhã, almoço e janta. Quem quiser participar sem pernoitar no local também pode se inscrever com tarifa diferenciada. Maiores informações podem ser obtidas através do e-mail juliaduringer@hotmail.com.

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Cenário de domingo



Estávamos a caminho de Lumiar, quando passamos por Casimiro de Abreu, no domingo. O cenário estava pronto para a foto. Foi só parar no acostamento e clicar. Como escreve Roland Barthes, em A Câmara Clara, "A vidência do Fotógrafo não consiste em 'ver', mas em estar lá".

O agosto que se fez cultura



Hoje é 31 de agosto. O mês termina com uma ternura na lembrança: os eventos realizados durante o Agosto Cultural, realizado pelo Círculo Artístico Cultural de Saquarema (CACS). Não é fácil trabalhar como trabalharam os organizadores, que conseguiram trazer para a cidade um show de chorinho de excelente nível com Edgar Gordilho (foto), uma exposição de pintura, um concurso de fotografia, e oficinas de contação de história e escultura. Preciso escrever mais nada. Só deixar registrado esse belo feito, e aplaudir. É da união que nascem grandes coisas.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Um estudo para o olhar


“Saquarema é um lugar ótimo para quem gosta de estudar”, disse-me certo dia minha professora de yôga, Rosângela de Castro. Esse estudo, penso, é abrangente como o silêncio das ruas nesses dias de inverno. Também como um barco ancorado, à espera da hora de ir buscar o peixe. Estudar é assim: estar à espreita, aguardando a brisa do conhecimento que nos chega através da beleza natural de estar aqui. Tem dias que é só pegar a câmera fotográfica e sair por aí, estudando formas, cores, composições, pessoas, o tempo incomum de Saquarema.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

De sete em sete, e outros sets


Paulo Luiz Barata é um poeta do avesso. Quis escrever essa frase mais pelo que pode ampliar de significados do que propriamente explicar alguma coisa ou definir o indefinível impulso da escrita deste poeta singular. Quando ele me pediu para escrever o prefácio ou a orelha de seu novo livro de poemas, confesso que hesitei. E fiquei ali, no meio de tantos afazeres cotidianos, alheio aos versos que, sabia eu, eram fortes e sinceros. Também fui sincero com o Paulo. E isso é algo que define bem nossa amizade, que nasceu assim, de graça. Era eu, então, que estava do avesso. Ou seria um espelho que refletisse comunhão?

Encontro agora o “Escola do Trovão” (Rio de Janeiro, Ibis Libris, 2011) e não me furto do direito de falar do livro. Acho que eu precisava justamente disso: ver o livro pronto. Porque, assim como em seus livros anteriores, Paulo Barata é um escultor que acompanha passo a passo cada uma das etapas de sua obra. Ler o livro antes é não ter lido o livro inteiro. Pois enfim o faço, e pergunto ao leitor mais atento: sabes o que é um trovão? Sim, é isso mesmo. É aquele estrondo que segue logo após a lâmina de luz que corta o céu em diasnoites de tempestade. Um bom nome para indicar também o significado de sua poesia em essência: um estrondo que acompanha esses raios que são seus versos, às vezes claros, às vezes assustadores.

Trovão também é uma trova grande. Assim, os versos de sete sílabas compostos pelo poeta vão se tecendo em trovas que podem ser lidas como um só conjunto, formando um só poema (um trovão). Ou lidas como pequenas cintilâncias na página. E cada leitura resulta em surpresas que tocam fundo na alma: “Quando o tempo vira espaço / É sinal de um mundo findo. / Quando pega no compasso / E lá vem outro Sol vindo”. Ou, como afirmei antes, assustam os desavisados: “Pisou, viajou na rosa, / O xamã ofereceu / Um peixe que Sara goza, / Na cara de Prometeu.”

Ler Paulo Luiz Barata é sempre uma descoberta. Quando ele me disse que estava escrevendo trovas, eu já aguardava algo novo. Pois que não é de seu feitio ser igual ou repetitivo. Faz parte de sua configuração expandir os significados. Em sua “escola” há algo de universal que faz tudo que passa por seus olhos se transformar em nova realidade. Uma estranha realidade, à La Castaneda, vai se construindo nas palavras deste xamã poético de cabelos cor de prata. E ele diz: “Minha escola é perene. / Depois de mim vai ficar. / Após o EME vem o ENE. / Faz das cinzas o próprio lar”. Ao leitor que deseja um bom mergulho neste mar sem fim que é a alma poética de Paulo Luiz Barata um conselho: esqueça as regras, desate o nó da gravata e simplesmente saboreie uma fruta fresca enquanto lê. Pois a trova, tem hora, que troveja diferente de nosso ouvir.

Camilo Mota é poeta, editor do Jornal Poiésis, mora em Saquarema-RJ.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Guardar o sorriso para celebrar a alegria

Quando recebi a notícia da morte do amigo Marin Melquíades, jornalista, editor do Diário de Petrópolis, por um instante senti aquele lamento tão natural quando perdemos uma pessoa querida. Passado algum tempo, comecei a rememorar sua lembrança, os dias na redação do jornal alguns anos atrás, um ou outro encontro na rua ou nas reuniões acadêmicas. Em todo canto que procurava sua imagem em mim, só encontrava o sorriso dele.

Essa constatação fez-me ver o quanto é importante guardarmos conosco os bons momentos que vivemos com as pessoas com as quais nos relacionamos na família, no trabalho, no dia a dia. Sejam elas amigas, ou mesmo inimigas. Todos que nos entregam um sorriso cordial, sincero, estão contribuindo também para a nossa felicidade. Por isso que, tantas vezes que me encontro diante da morte de alguém tão próximo, logo após o choque inicial, enxergo o seu sorriso em mim. Quando uma de minhas sobrinhas saiu deste plano de volta aos braços do Pai Maior, chorei um tanto... mas tinha hora que eu chorava de felicidade, por ela e por mim: seu espírito havia cumprido sua missão, havia estado aqui bem próximo do meu, e ainda prossegue assim próximo pela vibração do Bem que integra aqueles que reconhecem a Unidade como princípio para a manifestação do Amor.

Nos momentos de tristeza passageira que a vida nos apresenta é sempre bom lembrar dos amigos que temos e dos que tivemos. E é sempre melhor lembrar de todos pela manifestação de seu olhar feliz, de seus lábios sorridentes, para que possamos celebrar a alegria e a felicidade de estarmos todos irmanados sob o mesmo sol que nos abençoa com sua Luz.

Camilo Mota é escritor, poeta, terapeuta holístico (www.reikiadistancia.com.br)

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Jornal Poiésis de abril

Já está disponível para leitura a versão digital do Jornal Poiésis nº 181, de abril de 2011.


sábado, 19 de março de 2011

Pequenas coisas



A vida se faz nas pequenas coisas. O beijo no rosto, o gesto suave de bailarina, a brisa no amanhecer, o grilo respirando manhãs de outono, o pardal orquestrando os cantos diversos. Quando é noite e olho para o alto é que enxergo melhor minha pequenez. Quem se acha grande é porque não conhece nada de si nem da vida. Hoje sonhei com poesia. Ah, coisa antiga, me diriam. E a mim que ainda paro para olhar uma flor diferente numa mesma árvore condenada ao rigor dos homens e seus olhos de chumbo.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Poiésis de fevereiro já está online


A edição digital do Poiésis nº 179, de fevereiro de 2011, já está no ar.
http://issuu.com/jornalpoiesis/docs/poiesis_179

E por falar em música



Alguns municípios da Região dos Lagos têm demonstrado uma sensibilidade peculiar ao lidar com os artistas, principalmente na área musical, possibilitando-lhes uma maior exposição, oferecendo-lhes uma infraestrutura para apresentações e procurando entender de uma maneira mais ampla a importância do incremento da Cultura e do Turismo a partir da movimentação artístico-cultural. Neste verão de 2011, destaco os projetos desenvolvidos em Arraial do Cabo e em Araruama como sintomáticos desta filosofia.

Isabella Taviani, Tunai, Renato Teixeira, Flavio Venturini e Moraes Moreira foram os destaques do “Verão Musical 2011”, promovido pela Secretaria Municipal de Turismo de Arraial do Cabo no mês de janeiro e início de fevereiro. À parte a inegável boa escolha dos músicos para apresentações, demonstrando uma clara opção pela qualidade e não pela quantidade, o projeto trouxe ainda uma feliz realização: todos os shows foram abertos por cantores ou grupos musicais da própria cidade. Antecedendo as apresentações principais, o público pôde conferir o rico material apresentado por Andréia Gimenez, Evandro Marinho, Banda Condicional, Junior Carriço, Piau e Max Prates. Já em Araruama, mesmo sem investir em grandes espetáculos (à exceção dos programados para o aniversário do município), a Subsecretaria de Cultura tem aberto espaço na Praça Antonio Raposo para apresentação de cantores e grupos locais de todos os estilos. De sexta-feira a domingo, durante todo o verão, de janeiro a março, há shows a partir das 21 horas.

O tema da valorização do artista local já fora levantado em nossa edição de janeiro pela jornalista Regina Mota. Aquilo que ela argumenta em seu texto é adequado para qualquer pequena cidade do interior do país. Mas o que acontece em Saquarema, então? O marasmo só não é total porque alguns bares, restaurantes e casas noturnas estão investindo em música ao vivo. Não são muitas opções, mas é um caminho. Falta, é certo, um maior comprometimento da classe artística da cidade no sentido de melhor organizar-se. A união em torno de ideais comuns pode gerar movimento e força suficientemente fortes para a criação de projetos culturais positivos para o município, de maneira a sensibilizar também o poder público. Algumas iniciativas estão começando a tomar forma, como a elaboração de uma associação de artistas sob o impulso da artista plástica Telma Cavalcanti e mais um pequeno grupo de sonhadores. O Núcleo de Poesia Alberto de Oliveira é ainda um embrião para o trabalho com a literatura, a poesia e a música. A falta de infraestrutura (afinal, não temos ainda por aqui uma boa sala de exposições, um teatro adequado, um centro cultural bem aparelhado, um projeto político-cultural claramente definido...) não pode, no entanto, ser barreira para que iniciativas populares tomem conta das ruas, abrindo espaço para mostras coletivas e individuais de artistas de todas as áreas. Uma feira cultural, patrocinada pela Prefeitura, uma vez por ano, é apenas uma fagulha. Arte é para fazer brilhar fogueiras e estrelas, não importa de que tamanho sejam.

Camilo Mota é poeta, escritor, editor do Jornal Poiésis, cuja edição de fevereiro de 2011 tem o texto acima como editorial.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

A queda das máscaras nos contos de Victorino Aguiar


A literatura tem esse mistério de nos levar aos recantos mais profundos da personalidade humana, despertando nossa imaginação e nos levando a conhecer e a refletir melhor sobre o mundo que habitamos. Alguns autores conseguem corresponder a essa qualidade com uma linguagem tão atraente que a leitura começa e nos prende até o fim, como se a mesma já fizesse parte de nossas vidas e não pudéssemos nos afastar dela, como não nos afastamos do ar que respiramos. É nesse envolvimento entre vida e literatura que abordo Victorino Aguiar e seu livro de contos “Ladrão de mulher” (São Paulo, All Print Editora, 2010).

Nos onze contos que compõem o livro, o autor se revela um exímio contador de histórias em que o humor toca de leve os assuntos, fazendo contraposição à crítica — às vezes ácida — à tessitura social, política e humana. Victorino, em certos momentos, chega a brincar com a linguagem de maneira tão natural, que nos pega de surpresa. No conto “Provérbios”, a construção do diálogo paterno através de provérbios é um contraponto da memória e da rigidez dos costumes à realidade das coisas. Aqui, entendendo a realidade como um dolorido processo de tortura durante o regime militar. O paralelo que o autor cria entre o ditado “um raio não cai duas vezes num mesmo lugar” e o “choque elétrico” nos porões da ditadura é um dos momentos mais sublimes da presente obra. A crítica à estrutura política, aliás, é tema recorrente. Aparece em “O carismático”, “O julgamento do poeta”, “João Sem Braço” e “Frederico”. Em todos os casos, Victorino desmascara, literalmente, as personagens e as estruturas sociais que as sustentam.

A ideia da queda das máscaras parece-me o eixo central deste volume de contos. Desde a abertura, com “Uma vez Flamengo”, o que se vê é o autor construindo personagens que, à primeira vista, aparentam uma certa fortaleza, para em seguida mostrar sua fragilidade ou sua verdadeira face social. Assim, o palhaço que surge de surpresa como um assassino. Ou então o casal de “Almas gêmeas”, em que não se sabe ao certo se há uma realidade vivenciada pelo narrador ou se tudo não passa de fruto de sua imaginação. Interessante, ainda, ressaltar alguns aspectos de verdadeiro teatro do absurdo de algumas histórias, ecoando até um clima de realismo fantástico. Enfim, Victorino Aguiar domina a técnica narrativa de tal maneira que consegue ao mesmo tempo nos divertir e nos fazer pensar.

NOTA: O livro “Ladrão de Mulher”, de Victorino Aguiar, já está à venda no site da Livraria Saraiva (saraiva.com.br), no Submarino (submarino.com.br), e também na Livraria Templar em Bacaxá.

Camilo Mota é poeta e jornalista, editor do Jornal Poiésis (www.jornalpoiesis.com) e membro titular da Academia Brasileira de Poesia.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

No meio do caminho, havia um livro

Quando Renato e Maria Clara me presentearam com o livro “Bocas do Tempo”, de Eduardo Galeano, tive um lampejo de que iniciaria o ano falando sobre isso. Não sobre a obra (que bem merece um olhar e um dizer atentos), mas do ato de compartilhar leituras, de fazer os livros circularem e ganharem novas dimensões nas vidas das pessoas. Num instante, passam diante de meus olhos uma série de textos e citações que venho colecionando ao longo dos dias e percebo que muito disso é espelhado na minha vida e conduta, tanto pessoal quanto literária. O próprio Jornal Poiésis existe em função de sua capacidade de compartilhar textos e ideias, tendo a poesia como leitmotiv. Daí seu diferencial em relação a outras publicações locais e nacionais.

Ler é um ato de encontro e descoberta. Ao mesmo tempo em que se está entrando no universo de um autor, também estamos estabelecendo e recriando contato com nossas aspirações, defeitos, nosso ser interior, os fantasmas e anjos. Há momentos em que o livro é que nos contempla. Ao entrar numa livraria ou biblioteca, meus olhos percorrem as estantes procurando adivinhar as palavras impressas e, num átimo, descobrir, como por encanto, o significado de eu estar ali em busca de um som em particular. A frase para se meditar um dia inteiro, ou uma vida. Há livros para se ler do início ao fim. Há outros para se colher pérolas forjadas para o momento único e íntimo em que se vê unido ao Cosmos, sem a interferência das ilusões terrenas.

Um amigo me dizia que para saber se um livro era bom, bastava ler a primeira e a última palavra da obra. Se a leitura encadeada de ambas fizesse sentido, o livro seria bom. Não faço ideia de onde surgiu essa teoria minimalista, mas já me diverti bastante com ela. Depois, passei a ver que, entre o alfa e o ômega de toda obra, há uma construção que precisa ser desvelada e sentida para fazer sentido. E, principalmente, que os livros devem ser lidos com a mesma lentidão com que foram escritos.

Sejam os livros impressos ou virtuais, a palavra prossegue sua função de acrescentar conhecimento e alimentar a sensibilidade. Neste 2011, esperamos que muitas iniciativas prosperem no campo do incentivo à leitura, ganhando mais espaço nas escolas, associações de bairro, centros culturais, bibliotecas e nas famílias. O espaço do livro é no coração dos homens.

Camilo Mota é escritor, editor do Jornal Poiésis.