sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

E por falar em música



Alguns municípios da Região dos Lagos têm demonstrado uma sensibilidade peculiar ao lidar com os artistas, principalmente na área musical, possibilitando-lhes uma maior exposição, oferecendo-lhes uma infraestrutura para apresentações e procurando entender de uma maneira mais ampla a importância do incremento da Cultura e do Turismo a partir da movimentação artístico-cultural. Neste verão de 2011, destaco os projetos desenvolvidos em Arraial do Cabo e em Araruama como sintomáticos desta filosofia.

Isabella Taviani, Tunai, Renato Teixeira, Flavio Venturini e Moraes Moreira foram os destaques do “Verão Musical 2011”, promovido pela Secretaria Municipal de Turismo de Arraial do Cabo no mês de janeiro e início de fevereiro. À parte a inegável boa escolha dos músicos para apresentações, demonstrando uma clara opção pela qualidade e não pela quantidade, o projeto trouxe ainda uma feliz realização: todos os shows foram abertos por cantores ou grupos musicais da própria cidade. Antecedendo as apresentações principais, o público pôde conferir o rico material apresentado por Andréia Gimenez, Evandro Marinho, Banda Condicional, Junior Carriço, Piau e Max Prates. Já em Araruama, mesmo sem investir em grandes espetáculos (à exceção dos programados para o aniversário do município), a Subsecretaria de Cultura tem aberto espaço na Praça Antonio Raposo para apresentação de cantores e grupos locais de todos os estilos. De sexta-feira a domingo, durante todo o verão, de janeiro a março, há shows a partir das 21 horas.

O tema da valorização do artista local já fora levantado em nossa edição de janeiro pela jornalista Regina Mota. Aquilo que ela argumenta em seu texto é adequado para qualquer pequena cidade do interior do país. Mas o que acontece em Saquarema, então? O marasmo só não é total porque alguns bares, restaurantes e casas noturnas estão investindo em música ao vivo. Não são muitas opções, mas é um caminho. Falta, é certo, um maior comprometimento da classe artística da cidade no sentido de melhor organizar-se. A união em torno de ideais comuns pode gerar movimento e força suficientemente fortes para a criação de projetos culturais positivos para o município, de maneira a sensibilizar também o poder público. Algumas iniciativas estão começando a tomar forma, como a elaboração de uma associação de artistas sob o impulso da artista plástica Telma Cavalcanti e mais um pequeno grupo de sonhadores. O Núcleo de Poesia Alberto de Oliveira é ainda um embrião para o trabalho com a literatura, a poesia e a música. A falta de infraestrutura (afinal, não temos ainda por aqui uma boa sala de exposições, um teatro adequado, um centro cultural bem aparelhado, um projeto político-cultural claramente definido...) não pode, no entanto, ser barreira para que iniciativas populares tomem conta das ruas, abrindo espaço para mostras coletivas e individuais de artistas de todas as áreas. Uma feira cultural, patrocinada pela Prefeitura, uma vez por ano, é apenas uma fagulha. Arte é para fazer brilhar fogueiras e estrelas, não importa de que tamanho sejam.

Camilo Mota é poeta, escritor, editor do Jornal Poiésis, cuja edição de fevereiro de 2011 tem o texto acima como editorial.

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