quarta-feira, 27 de julho de 2011

De sete em sete, e outros sets


Paulo Luiz Barata é um poeta do avesso. Quis escrever essa frase mais pelo que pode ampliar de significados do que propriamente explicar alguma coisa ou definir o indefinível impulso da escrita deste poeta singular. Quando ele me pediu para escrever o prefácio ou a orelha de seu novo livro de poemas, confesso que hesitei. E fiquei ali, no meio de tantos afazeres cotidianos, alheio aos versos que, sabia eu, eram fortes e sinceros. Também fui sincero com o Paulo. E isso é algo que define bem nossa amizade, que nasceu assim, de graça. Era eu, então, que estava do avesso. Ou seria um espelho que refletisse comunhão?

Encontro agora o “Escola do Trovão” (Rio de Janeiro, Ibis Libris, 2011) e não me furto do direito de falar do livro. Acho que eu precisava justamente disso: ver o livro pronto. Porque, assim como em seus livros anteriores, Paulo Barata é um escultor que acompanha passo a passo cada uma das etapas de sua obra. Ler o livro antes é não ter lido o livro inteiro. Pois enfim o faço, e pergunto ao leitor mais atento: sabes o que é um trovão? Sim, é isso mesmo. É aquele estrondo que segue logo após a lâmina de luz que corta o céu em diasnoites de tempestade. Um bom nome para indicar também o significado de sua poesia em essência: um estrondo que acompanha esses raios que são seus versos, às vezes claros, às vezes assustadores.

Trovão também é uma trova grande. Assim, os versos de sete sílabas compostos pelo poeta vão se tecendo em trovas que podem ser lidas como um só conjunto, formando um só poema (um trovão). Ou lidas como pequenas cintilâncias na página. E cada leitura resulta em surpresas que tocam fundo na alma: “Quando o tempo vira espaço / É sinal de um mundo findo. / Quando pega no compasso / E lá vem outro Sol vindo”. Ou, como afirmei antes, assustam os desavisados: “Pisou, viajou na rosa, / O xamã ofereceu / Um peixe que Sara goza, / Na cara de Prometeu.”

Ler Paulo Luiz Barata é sempre uma descoberta. Quando ele me disse que estava escrevendo trovas, eu já aguardava algo novo. Pois que não é de seu feitio ser igual ou repetitivo. Faz parte de sua configuração expandir os significados. Em sua “escola” há algo de universal que faz tudo que passa por seus olhos se transformar em nova realidade. Uma estranha realidade, à La Castaneda, vai se construindo nas palavras deste xamã poético de cabelos cor de prata. E ele diz: “Minha escola é perene. / Depois de mim vai ficar. / Após o EME vem o ENE. / Faz das cinzas o próprio lar”. Ao leitor que deseja um bom mergulho neste mar sem fim que é a alma poética de Paulo Luiz Barata um conselho: esqueça as regras, desate o nó da gravata e simplesmente saboreie uma fruta fresca enquanto lê. Pois a trova, tem hora, que troveja diferente de nosso ouvir.

Camilo Mota é poeta, editor do Jornal Poiésis, mora em Saquarema-RJ.

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