sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011
Poiésis de fevereiro já está online
A edição digital do Poiésis nº 179, de fevereiro de 2011, já está no ar.
http://issuu.com/jornalpoiesis/docs/poiesis_179
E por falar em música
Alguns municípios da Região dos Lagos têm demonstrado uma sensibilidade peculiar ao lidar com os artistas, principalmente na área musical, possibilitando-lhes uma maior exposição, oferecendo-lhes uma infraestrutura para apresentações e procurando entender de uma maneira mais ampla a importância do incremento da Cultura e do Turismo a partir da movimentação artístico-cultural. Neste verão de 2011, destaco os projetos desenvolvidos em Arraial do Cabo e em Araruama como sintomáticos desta filosofia.
Isabella Taviani, Tunai, Renato Teixeira, Flavio Venturini e Moraes Moreira foram os destaques do “Verão Musical 2011”, promovido pela Secretaria Municipal de Turismo de Arraial do Cabo no mês de janeiro e início de fevereiro. À parte a inegável boa escolha dos músicos para apresentações, demonstrando uma clara opção pela qualidade e não pela quantidade, o projeto trouxe ainda uma feliz realização: todos os shows foram abertos por cantores ou grupos musicais da própria cidade. Antecedendo as apresentações principais, o público pôde conferir o rico material apresentado por Andréia Gimenez, Evandro Marinho, Banda Condicional, Junior Carriço, Piau e Max Prates. Já em Araruama, mesmo sem investir em grandes espetáculos (à exceção dos programados para o aniversário do município), a Subsecretaria de Cultura tem aberto espaço na Praça Antonio Raposo para apresentação de cantores e grupos locais de todos os estilos. De sexta-feira a domingo, durante todo o verão, de janeiro a março, há shows a partir das 21 horas.
O tema da valorização do artista local já fora levantado em nossa edição de janeiro pela jornalista Regina Mota. Aquilo que ela argumenta em seu texto é adequado para qualquer pequena cidade do interior do país. Mas o que acontece em Saquarema, então? O marasmo só não é total porque alguns bares, restaurantes e casas noturnas estão investindo em música ao vivo. Não são muitas opções, mas é um caminho. Falta, é certo, um maior comprometimento da classe artística da cidade no sentido de melhor organizar-se. A união em torno de ideais comuns pode gerar movimento e força suficientemente fortes para a criação de projetos culturais positivos para o município, de maneira a sensibilizar também o poder público. Algumas iniciativas estão começando a tomar forma, como a elaboração de uma associação de artistas sob o impulso da artista plástica Telma Cavalcanti e mais um pequeno grupo de sonhadores. O Núcleo de Poesia Alberto de Oliveira é ainda um embrião para o trabalho com a literatura, a poesia e a música. A falta de infraestrutura (afinal, não temos ainda por aqui uma boa sala de exposições, um teatro adequado, um centro cultural bem aparelhado, um projeto político-cultural claramente definido...) não pode, no entanto, ser barreira para que iniciativas populares tomem conta das ruas, abrindo espaço para mostras coletivas e individuais de artistas de todas as áreas. Uma feira cultural, patrocinada pela Prefeitura, uma vez por ano, é apenas uma fagulha. Arte é para fazer brilhar fogueiras e estrelas, não importa de que tamanho sejam.
Camilo Mota é poeta, escritor, editor do Jornal Poiésis, cuja edição de fevereiro de 2011 tem o texto acima como editorial.
quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011
A queda das máscaras nos contos de Victorino Aguiar
A literatura tem esse mistério de nos levar aos recantos mais profundos da personalidade humana, despertando nossa imaginação e nos levando a conhecer e a refletir melhor sobre o mundo que habitamos. Alguns autores conseguem corresponder a essa qualidade com uma linguagem tão atraente que a leitura começa e nos prende até o fim, como se a mesma já fizesse parte de nossas vidas e não pudéssemos nos afastar dela, como não nos afastamos do ar que respiramos. É nesse envolvimento entre vida e literatura que abordo Victorino Aguiar e seu livro de contos “Ladrão de mulher” (São Paulo, All Print Editora, 2010).
Nos onze contos que compõem o livro, o autor se revela um exímio contador de histórias em que o humor toca de leve os assuntos, fazendo contraposição à crítica — às vezes ácida — à tessitura social, política e humana. Victorino, em certos momentos, chega a brincar com a linguagem de maneira tão natural, que nos pega de surpresa. No conto “Provérbios”, a construção do diálogo paterno através de provérbios é um contraponto da memória e da rigidez dos costumes à realidade das coisas. Aqui, entendendo a realidade como um dolorido processo de tortura durante o regime militar. O paralelo que o autor cria entre o ditado “um raio não cai duas vezes num mesmo lugar” e o “choque elétrico” nos porões da ditadura é um dos momentos mais sublimes da presente obra. A crítica à estrutura política, aliás, é tema recorrente. Aparece em “O carismático”, “O julgamento do poeta”, “João Sem Braço” e “Frederico”. Em todos os casos, Victorino desmascara, literalmente, as personagens e as estruturas sociais que as sustentam.
A ideia da queda das máscaras parece-me o eixo central deste volume de contos. Desde a abertura, com “Uma vez Flamengo”, o que se vê é o autor construindo personagens que, à primeira vista, aparentam uma certa fortaleza, para em seguida mostrar sua fragilidade ou sua verdadeira face social. Assim, o palhaço que surge de surpresa como um assassino. Ou então o casal de “Almas gêmeas”, em que não se sabe ao certo se há uma realidade vivenciada pelo narrador ou se tudo não passa de fruto de sua imaginação. Interessante, ainda, ressaltar alguns aspectos de verdadeiro teatro do absurdo de algumas histórias, ecoando até um clima de realismo fantástico. Enfim, Victorino Aguiar domina a técnica narrativa de tal maneira que consegue ao mesmo tempo nos divertir e nos fazer pensar.
NOTA: O livro “Ladrão de Mulher”, de Victorino Aguiar, já está à venda no site da Livraria Saraiva (saraiva.com.br), no Submarino (submarino.com.br), e também na Livraria Templar em Bacaxá.
Camilo Mota é poeta e jornalista, editor do Jornal Poiésis (www.jornalpoiesis.com) e membro titular da Academia Brasileira de Poesia.
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