Enquanto a visão econômica leva muitos a discutirem a aposentadoria dos livros impressos por conta do avanço dos leitores digitais (e-readers), uma iniciativa de um homem simples mostra que temos que ter um enfoque mais humano sobre as coisas, procurando, primeiro, fazer o bem a quem está próximo de nós e dar oportunidade de melhoria de vida e de educação para quem carece de quase tudo. É o que está acontecendo no bairro Manoel Correia, um dos mais pobres e com altos índices de violência no município de Cabo Frio. Ali, o comerciante José Carlos da Silva abriu, ao lado de sua pequena mercearia, uma biblioteca comunitária. Batizado de Projeto Feijão, o espaço de 30 metros quadrados está em atividade desde 2007 e a partir de 2010 iniciou uma proveitosa parceria com a Universidade Estácio de Sá – Campus Cabo Frio, através do suporte fornecido pela bibliotecária Roberta Freitas, pelo professor Marcos Silva e alunas voluntárias do curso de Pedagogia.
A ideia da biblioteca surgiu de uma maneira natural. A filha de José Carlos precisava fazer uma pesquisa para a escola. Não encontrando o que procurava na biblioteca municipal e nem em estabelecimentos de ensino superior da cidade, ele partiu para a criação de uma biblioteca própria, para atender às crianças do bairro. Assim, de início, ele reduziu o espaço de seu comércio para colocar as primeiras prateleiras e receber os livros. Foi chamado de maluco por alguns moradores. Como alguém pode abrir mão das vendas para encher paredes com livros? E ele não parou por aí. Em pouco tempo, os amigos começaram a trazer doações e a biblioteca cresceu, vindo a ocupar todo o cômodo, obrigando-o a transferir seu comércio para a sala ao lado. “Você tem que sonhar, e o sonho você tem que ir em busca dele e não pode desistir”, filosofa José Carlos.
A imagem do feijão, que dá nome ao projeto, é significativa. Segundo José Carlos, a escolha está ligada ao processo de crescimento do vegetal. Ao plantar um grão, a germinação vai levar ao surgimento de uma vagem, representando assim a ideia de crescimento, desenvolvimento e expansão. “O intuito é que o projeto cresça e não permaneça só aqui; que possam sair daqui vários feijõezinhos”, diz ele. “Eu me alegro quando vejo uma pessoa pegar um livro. Hoje um livro pra mim é como se fosse um diamante”, complementa. E finaliza, com sabedoria e esperança: “É necessário você educar as crianças. O livro tem essa importância e valia. As crianças precisam colocar na sua mente que o estudar é uma ponte para o futuro. Quem quer alcançar alguma coisa precisa passar por essa ponte que é a educação”.
A parceria do Projeto Feijão com a Universidade Estácio de Sá está auxiliando na organização do acervo e também em seu crescimento. “Nós implantamos um sistema de empréstimo, através de fichário e com a ajuda das alunas do curso de Pedagogia estamos fazendo uma catalogação prévia dos livros”, informou Roberta Freitas. Contando com cerca de dois mil livros, a biblioteca comunitária está aberta a novas doações. Os interessados em ajudar, podem entrar em contato com Roberta no Campus da Estácio em Cabo Frio (Rodovia General Alfredo Bruno Gomes Martins, s/nº - lote 19, Bairro Braga – Tel. (22) 2646-2100 ramal 2115). Para conhecer mais sobre o projeto acesse o blog Projeto Feijão Biblioteca Comunitária.
Camilo Mota é escritor, jornalista, editor do Jornal Poiésis.
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